segunda-feira, 9 de julho de 2012

Bahia abre "fábrica" de mosquito da dengue transgênico


Uma nova fábrica, inaugurada hoje em Juazeiro (BA), vai ampliar em oito vezes a produção nacional do mosquito transgênico da dengue.

Esse pode ser mais um passo para expandir, no país, uma tecnologia que reduz a circulação do Aedes aegypti.

Os machos do mosquito são modificados para transmitir genes letais à sua prole. O Aedes acaba morrendo ainda na fase de larva, diminuindo a população do mosquito, que é vetor da dengue.

Até aqui, 500 mil A. aegypti eram "fabricados" por semana e soltos em bairros de Juazeiro por pesquisadores da Moscamed (organização social ligada aos governos federal e da Bahia) e da USP.

Segundo os cientistas, essa experiência já é a mais ampla no mundo com os Aedes transgênicos, testados em menores proporções nas Ilhas Cayman e na Malásia.

A ideia agora é aumentar a produção nacional para 4 milhões semanais e soltá-los largamente em Jacobina (BA), cidade de 79 mil habitantes, possivelmente em setembro -antes da multiplicação dos insetos com mais chuvas.

Segundo Aldo Malavasi, diretor da Moscamed, o teste em Juazeiro gerou uma redução de até 85% na população selvagem do mosquito.

"Sairemos da fase de testes, que já comprovam que realmente há redução populacional, e vamos partir para o piloto em uma cidade de médio porte", diz Malavasi. A nova fábrica custou R$ 1,7 milhão ao Estado da Bahia.

A tarefa que vem a seguir é relacionar a redução da população de Aedes com números mais baixos de dengue, diz Margareth Capurro, professora da USP que desenvolveu a parte técnica do estudo a partir de uma linhagem produzida no Reino Unido.

PRINCIPAL EPIDEMIA

A dengue é classificada pelo ministro Alexandre Padilha (Saúde) como "a principal epidemia urbana do país". Jacobina está entre as dez cidades com piores índices de dengue na Bahia e registrou duas das 19 mortes do Estado até 10 de junho, segundo dados do governo baiano. No país, foram 74 mortes entre janeiro e abril, diz a Saúde.

A ideia é, no futuro, ampliar a experiência para outras cidades que sofrem com dengue. Para tanto, explica Malavasi, será preciso avançar em entraves como a forma de liberação -hoje terrestre, o que limita a ação.

"Podemos conseguir a eliminação [do mosquito] em vários locais, como no semiárido. Mas, quando penso na Berrini [avenida próxima à marginal Pinheiros, em São Paulo] ou nos morros do Rio, me dá certo arrepio", diz, referindo-se aos desafios de disseminação do inseto.

Capurro trata o Aedes transgênico como uma "tecnologia adicional", que reduz o uso de inseticidas químicos e diminui o impacto ambiental, mas deve ser combinada a outras ferramentas, como controle de criadouros e campanhas com a população.

A mesma opinião tem o ministro Padilha, que vai acompanhar in loco a inauguração da futura biofábrica.

"O combate à dengue exige a combinação de ações de forte vigilância, controle do vetor e atenção à saúde. Sempre teremos de trabalhar com a combinação dessas estratégias", argumenta o ministro.

COMPETIÇÃO POR PARCEIROS

As estratégias de modificação genética para enfrentar insetos transmissores de doenças são promissoras, mas ainda engatinham, em parte porque são tecnologias novas.

Além do caso do Aedes, há uma série de iniciativas, tocadas por grupos de pesquisa em várias partes do mundo, para fazer o mesmo com as diversas espécies de mosquitos do gênero Anopheles que transmitem a malária, talvez a doença infecciosa mais devastadora do mundo hoje.

Um dos grandes desafios envolve a chamada aptidão dos transgênicos. É que não adianta muito encher o ambiente com eles se os animais não conseguirem competir por parceiros com a forma selvagem -a característica desejada (gerar filhotes inviáveis ou estéreis, digamos) não se espalharia, e o efeito deles seria nulo.

Também é preciso estudar possíveis riscos ambientais da liberação.

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