quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Preparação para Jogos Olímpicos no Brasil envolta em corrupção



A bandeira oficial dos Jogos Olímpicos foi levada para o Rio de Janeiro, que será a capital olímpica em 2016. Portanto, o Brasil deu início oficial à preparação dos Jogos. Convém assinalar que o Brasil será o primeiro país da América Latina a acolher os Jogos Olímpicos em seu território. Vamos ver como o país se prepara para a realização das maiores competições esportivas do mundo.

O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, que trouxe a bandeira olímpica, declarou imediatamente que todos os estádios e infraestruturas olímpicas estarão prontos e serão entregues antes do início dos Jogos. Ao mesmo tempo o Rio enfrenta problemas de organização de um outro evento esportivo – a Copa do Mundo de 2014. A agência AP informa que no aeroporto do Rio de Janeiro a delegação brasileira vinda de Londres foi recebida por um grupo de moradores da cidade que protestavam contra a futura demolição de prédios a fim de construir estádios em seu lugar. Será demolido, em particular, o autódromo Jacarepaguá, onde se realizam as corridas deFórmula-1.

Muitas pessoas, incluindo personalidades oficiais, já manifestaram reiteradas vezes preocupação com o volume e ritmo das futuras obras. Todos recordam as palavras do secretário-geral da FIFA, Jérôme Walke, de que os brasileiros devem apressar-se e trabalhar intensamente a fim de construir os estádios para o campeonato mundial de futebol. Aliás, ele usou expressões muito mais rudes, o que enfureceu os responsáveis oficiais. Não pretendemos citar as suas palavras textualmente mas isso não muda a essência do problema.

Por enquanto, nenhuma das doze arenas de futebol está totalmente pronta. Nenhum dos nove aeroportos pode anunciar com orgulho que esteja pronto a receber os esportistas e os turistas. É sabido, todavia, que já no próximo ano em alguns destes estádios serão promovidos jogos da Copa de Libertadores. Estes dados foram mencionados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, IPEA. No seu comunicado diz-se: “Quanto à equipe, tudo está em ordem, mas temos grandes problemas na construção de equipamentos”, - afirmou o famoso Pelé.

O volume de construção das obras olímpicas é ainda maior. Os anfitriões das Olimpíadas afirmam que já dispõem de 47% de todas as infraestruturas olímpicas. Mas a construção de 28% das obras deve começar a partir do zero e 25% terão um caráter provisório. No entanto, até agora não foi aprovado o orçamento mesmo para estas percentagens. O prefeito do Rio de Janeiro afirmou que o respetivo documento será aprovado apenas no segundo trimestre do próximo ano. E tudo isso – três anos depois da obtenção pelo Brasil do direito de promover os Jogos Olímpicos! Já foram destinados os meios para a construção de alguns objetos, mas eles não se utilizam de acordo com o objetivo a que tinham sido destinados. “A realização de programas de investimento é ineficiente”,- constata o já mencionado Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.

Falando mais simples, pode-se afirmar que a construção de obras olímpicas no Brasil é influenciada pela corrupção. Alguns peritos brasileiros reputam que a realização das Olimpíadas e do campeonato mundial de futebol podem apenas agravar este problema. A revistaVeja publica dados estatísticos interessantes a respeito de escândalos de corrupção no país em 2011 e 2012. Durante este lapso de tempo, as acusações de lavagem de dinheiro, de utilização dos meios do Estado para fins particulares e de falsificações nas contas foram apresentadas a dirigentes e funcionários dos ministérios do Trabalho, dos Transportes, da Agricultura, do Turismo, do ministério do Desenvolvimento Urbano e o ministério do Esporte. Muitos executivos da administração pública foram acusados precisamente de desvio do dinheiro, destinado para as obras do campeonato mundial de futebol e das Olimpíadas.

A corrupção virou o principal fator que impede o aumento de investimentos estrangeiros e, de um modo geral, o ingresso do capital no mercado brasileiro. A Federação de Industriais do Estado de São Paulo, FIESP, menciona os dados a seguir: “A corrupção custa todos os anos aos brasileiros entre 1,4% e 2,3% do PIB, uma percentagem que pode alcançar os 146 bilhões de dólares. A perceção da corrupção no Brasil se manteve nos últimos anos de forma constante e bastante alta". 

O dirigente de uma das organizações não-governamentais, Castelo Branco, afirma: "Acredito que, na mesma proporção em que aumenta a quantidade de grandes obras, o risco de corrupção também sobe. O corrupto vai onde o capital está".

O eminente jornalista brasileiro Jurandir Suares, laureado de numerosos prêmios, também apontou na entrevista à Voz da Rússia as dificuldades que o Brasil enfrenta na véspera das Olimpíadas:

"Nós estamos aqui com esses dois eventos pela frente, e com muita preocupação do cidadão brasileiro – até porque o Brasil tem uma tradição de fazer uma obra que custa 200, 800 ou mil. Existe uma preocupação assim também com os gastos que foram feitos e estão sendo feitos e estádios em cidades que não têm tradição futebolística – estádios para 40-50 mil pessoas. Há cidades em que há tradição – cidades grandes, que têm clubes e que vão fazer a estática, em que o estádio vai ficar para ser usado – aí tudo bem – é perfeitamente aceitável. Mas há uma contestação com relação a essas cidades, a esses estádios, aos gastos demasiados que são feitos, não é? Porque a maior parte está sendo feito com gasto público. Com algumas exceções, como a de Porto Alegre, por exemplo onde será realizada a Copa, no estádio Internacional, ali, a reforma do estádio está sendo bancada pelo clube na parceria com uma empresa privada.

Então, isso mostra que nós temos capacidade para fazer os empreendimentos privados sem que haja corrupção. É por isto que se contesta muita obra que foi incluída na Copa e que está dando margem a esse tipo de corrupção, de gasto desnecessário, quando nós temos problemas imensos, por exemplo na área da saúde, esse dinheiro pode ser empregado ali – e não está sendo empregado. Agora, já que estamos envolvidos nesse processo, já que nós temos pela frente uma Copa do Mundo e uma Olimpíada, nós vamos fazer e vamos tentar fazer o melhor possível."

Tudo isso leva a uma única conclusão: a vinda da bandeira olímpica ao Rio de Janeiro está empanado com duas coisas: o financiamento “duvidoso” dos jogos e os prazos incertos de construção das obras olímpicas. A solução destas duas tarefas básicas está sob a pressão forte da corrupção. O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes,afirmou que ambas as tarefas são muito difíceis mas não poderemos chamar-nos “olimpiónicos” se não os resolvermos a tempo.

Alguém perguntou o prefeito sobre as medidas de segurança em torno da bandeira olímpica. Não vão roubá-la? Paes sorriu e apontou os dois irmãos Falcão, que conquistaram as medalhas de prata e de bronze em Londres. Eles irão ajudar e defender! Naquele momento, uma orquestra começou a tocar na sala em que se realizava a receção da bandeira olímpica. Foi interpretado pela primeira vez para o público o hino dos Jogos Olímpicos do Rio-2016, cuja letra reza: “Grandes Deuses do Olimpo, venham ao Rio”. Como é natural, o hino foi composto em ritmo de samba.

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